O Euro fora da zona do Euro: a euroização no Kosovo e em Montenegro

AuthorCezar Aloisio Pascoa Braga
Pages13-28
Resumo
Kosovo e Montenegro destacam-se, entre os utilizadores do euro, por seu uso
unilateral da moeda. Em ambos os Estados, a substituição monetária resulta
     
marco alemão e, posteriormente, do euro — a euroização. A despeito dos be-
    -
 
nacionais no âmbito do Banco Central Europeu. A princípio, a euroização tam-
bém preocupou a União Europeia, pelo desequilíbrio que pudesse causar na
política monetária do Banco Central Europeu. Essa posição, contudo, evoluiu
para a aceitação do inevitável status internacional da moeda comum. A euroi-
zação
  
origina antinomias relativas ao cumprimento dos critérios de Maastricht, que
determinam parâmetros de política econômica objetivando a convergência es-
trutural dos Estados-parte da União Europeia, condição essencial para o bom
funcionamento de uma união monetária segundo a teoria da Área Monetária
Ótima. Este artigo analisa essas antinomias, vislumbrando possíveis soluções e

-
peia e a evitar que a euroização

Palavras-chave
Euroização; Substituição Monetária; Critérios de Maastricht; União Europeia;
Kosovo; Montenegro.
Introdução
Em 1º de janeiro de 2002, 14 governos europeus disponibilizaram ao público as
cédulas e moedas da nova denominação monetária do continente. Iniciava-se,
O EURO FORA DA ZONA DO EURO: A EUROIZAÇÃO NO
KOSOVO E EM MONTENEGRO
CEZAR ALOISIO PASCOA BRAGA
14 REVISTA DO PROGRAMA DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA
          
nova moeda. Kosovo e Montenegro não participaram das negociações para a
constituição da moeda nem teriam voz na formulação das políticas emanadas
pelo Banco Central Europeu (BCE). Não estavam sujeitos, tampouco, aos re-

Este trabalho propõe analisar como a adoção unilateral do euro por Kosovo e
    
dois países e de potenciais candidatos que, de forma similar, tenham lançado
euroização.
A relevância das discussões acerca da euroização evidenciou-se desde a cri-
-
bate na literatura acerca da importância da convergência estrutural em uma UEM.
Desde o trabalho pioneiro de Mundell1, a teoria da Área Monetária Ótima
(AMO) estabeleceu-se como referência para a formulação de políticas públicas,
ao determinar a convergência estrutural entre os membros de uma UEM como
condição para o funcionamento desta. O progresso da ciência econômica, con-
tudo, induziu ao questionamento progressivo dessa perspectiva, enfatizando-
-se os benefícios da dolarização sem convergência prévia2. Há, portanto, um
debate acerca da melhor estratégia de convergência em uma UEM: se ex ante
ou ex post. O arcabouço institucional da UE evidencia que o caminho preferen-

A preocupação dos formuladores do euro com o equilíbrio sistêmico evi-
dencia-se nos critérios de Maastricht, que impõem aos aderentes da UEM um
-
cal e austeridade monetária.
Kosovo e Montenegro, contudo, optaram pela euroização unilateral, sem se
submeterem aos critérios de Maastricht. Destarte, abdicaram de soberania econô-

A relevância da substituição monetária unilateral comprova-se ainda ao
se considerar o elevado grau de euroização de outras economias balcânicas
— potenciais membros da UE — como Albânia, Bósnia-Herzegovina, Antiga Re-
pública Iugoslava da Macedônia e Sérvia, que poderiam, similarmente, adotar
a medida unilateral3.
 -
mic Review, Pittsburgh: American Economic Association, V.51, n°4, sept. 1961, p. 657-665.
 
Optimum Currency Area Theory: What is MEU Telling Us? European Central Bank Working
Paper Series, Frankfurt: n° 138, abr. 2002.
3 SCHOORS, Koen. Should the Central and Eastern European Accession Countries Adopt the
Euro Before or After Accession? In: Economics of Planning, [S.I.]: Springer, V.35, nº1, 2002,
p.47-77.

To continue reading

Request your trial

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT